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ilustração _ paul constantinides |
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Seu Mirson!
Era
assim que o pessoal do bar chamava o locutor da estação de rádio local, que ficava
numa sobreloja sobre um bar ao lado de uma esquina onde ficava uma enorme loja
de confecções com oito portas, sendo quatro pra rua do bar e outras quatros pra
outra rua que dava na praça da matriz e que tinha do outro lado, a estação de
trem e o hotel da cidade.
Era
ali que o seu Mirson trabalhava e passava boas horas do seu dia. Nos intervalos
descia pra um café e um papo amigo com algum frequentador do bar, ou com seu
Manuel, que era o dono do bar e tinha apanhado da esposa quando o pegou
agarrando uma funcionária mais nova nos fundos do bar.
No
bar do seu Manoel o Mirson encontrava conhecidos, pessoas e conversas. As
conversas alimentavam seu show na rádio, chamado: Coisas & Causos.
Certo
dia Mirson ouviu de duas pessoas no balcão um papo sobre disco voador. Que
alguém viu. E outro também. No mesmo dia, na mesma hora e em locais diferentes.
Dando
pouca importância a princípio, Mirson começou a se interessar pelo assunto,
assim que a conversa sobre disco voador foi ganhando corpo com o passar dos
dias. Inquirindo pessoas no bar de forma extremamente informal Mirson ficou
sabendo que vários relatos sobre aparições de discos voadores. A maioria deles
apontavam o Bairro das Maloqueiras, um bairro fora da cidade, como o local onde
as aparições ocorriam.
Mirson
pegou seu fusca num fim de tarde e seguiu em direção ao bairro das Maloqueiras,
o bairro fora da cidade.
Para
chegar ao bairro se pegava uma estrada vicinal, asfaltada, no setor leste da
cidade e seguia-se por pouco mais de um quilometro até a subida de um morro. De lá, olhando abaixo
já se via o bairro.
Mirson
trazia consigo um binóculo que pegara emprestado do taxidermista que tomava
café sempre as 10hs da manhã no bar do seu Manoel.
Ele
ficou horas esperando ver algo no ar, sobre o bairro e nada.
A
única coisa que lhe chamara atenção, se bem que não era uma novidade, eram as
atividades operacionais e noturnas da base área militar que ficava instalada um
pouco além do bairro, separados pelo rio que cortava a planície.
Isto
lhe deu uma ideia. No dia seguinte foi até a base aérea militar conversar com
um major que conhecera no bar do seu Manoel, aquele que apanhou da esposa.
O
major surpreso com sua visita o recebeu oferecendo café e querendo saber do
motivo da incomum visita do repórter radialista a sua base.
Mirson
lhe contou sobre os relatos que ele ouvira sobre discos voadores aparecem
sobrevoando a região do bairro das Maloqueiras.
O
major se fez de surpreso e depois de debochado, dizendo que discos voadores eram
coisa de lunáticos. Invencionice das pessoas.
Mirson
gravou uma breve afirmação do major sobre o assunto, pois estava coletando
material para fazer uma apresentação no seu show de rádio. Depois,
se dirigiu ao bairro onde coletou afirmações diversas de pessoas dizendo que
tinham visto discos voadores, e de pessoas que não viram, mas ouviram dizer.
Naquele
mesmo dia ele recebeu uma chamada telefônica e uma voz abafada lhe disse – Esqueça
os discos voadores. E desligou em seguida. Mirson
achou aquilo estranhou, mas nem ligou. Desceu as escadas e entrou no bar do Seu
Manoel pois naquela noite o seu time ia jogar e o seu Manoel acabara de
instalar uma televisão no salão do bar.
Depois
do jogo, de algumas cervejas e muita animação, Mirson se aproximando do carro
percebeu um envelope colocado sob a haste do limpador de para-brisa. Ele abriu o envelope e leu a carta que lhe
dizia – Esqueça os discos voadores.
No
dia seguinte, Mirson intensificou as chamadas do seu programa sobre Discos Voadores,
falando das entrevistas e coberturas sobre o caso das supostas aparições de
disco voadores no bairro das Maloqueiras.
No
fim da tarde enquanto descia as escadas da estação Mirson se deu com um senhor
alto e sorridente que estava ali lhe esperando. Senhor Mirson? O homem
se identificou como Roger, era um gringo, se via pelo sotaque, ele lhe disse
que sabia algo sobre os discos voadores e queria lhe falar sobre.
Mirson,
interessado, lhe sugeriu irem ao bar do seu Manoel, o gringo recusou, perguntou
se haveria algum lugar mais discreto. Mirson o conduziu ate o bar do hotel que
era de uso quase que exclusivo dos hospedes do hotel, aberta exceções a certas
pessoas e entre elas o sr. Mirson.
Instalados
numa mesa os dois conversaram. Roger lhe explicou que era um gerente de vendas
de produtos eletrônicos e estava viajando pela região com sua equipe de vendas,
quando ouviu sua chamada no rádio. Lhe revelou que havia um grupo secreto que
monitorava os discos voadores e que haviam sido constatadas em um ano aparições
em diversas localidades da região onde estavam. Num raio de 100 quilômetros.
Discretamente
colocou algumas fotos na mesa e Mirson as olhou estarrecido.
Mirson
disse ao gringo que queria ter contato com este grupo secreto. Roger disse que
seria muito perigoso lhe dar este contato. Mirson com seu faro de jornalista
ante a resposta do gringo pressentiu que ele tinha a fonte para o contato e o
persuadiu de tal forma que por fim Roger cedeu e lhe deu o número de telefone,
reiterando sobre o perigo em contatar o grupo. Em seguida o gringo se levantou
se despediu de Mirson e partiu levando as fotos.
No
dia seguinte Mirson, na primeira oportunidade que teve, ligou para o numero de
telefone. Ninguém atendeu. Tentou novamente ninguém atendeu.
Horas
depois o telefone tocou e a atendente da estação de radio transferiu para o
ramal de Mirson, ele atendeu e uma voz lhe falou – Diga apenas SIM ou NÃO – você
nos ligou hoje?
Mirson
abruptamente perguntou quem estava falando. A voz enfaticamente repetiu – dia
apenas SIM ou NÃO, foi você que nos ligou hoje? Mirson respirou fundo, fez
uma pausa silenciosa e disse sim.
A
voz falou – Não nos ligue mais, oportunamente entraremos em contato. Mas um
alerta. Não faça o seu show sobre Discos Voadores.
Mirson
ouviu o clic do outro lado da linha desligando o telefone. Pensou em ligar
novamente para o número, mas lembrou do aviso de Roger na noite passada, o
perigo. E desistiu de ligar. Mas desistir de fazer o programa de forma alguma.
Tudo estava acertado para que no dia seguinte o show, já totalmente gravado,
fosse ao ar.
Mirson
faria intervenções atendendo chamadas dos ouvintes durante os intervalos
comerciais.
Pouco
antes do show entrar no ar Mirson recebeu uma ligação e a voz disse – Esteja
no alto do morro do bairro das Maluquetes as 19h35. Você não vai se arrepender.
Aparição confirmada. Aparição confirmada. E desligaram.
Mirson
se apavorou, ficou extasiado, confuso. Era a mesma voz da ligação anterior.
O
show começaria as 19h30, o primeiro intervalo seria as 19h45. Mirson avisou ao
Bruno da produção pra avisar que ele faria intervenções apenas no fim do show
as 20h30. Entrou no fusca e seguiu para
o morro das Maluquetes. As 19h28
estacionou seu carro no topo do morro. Desligou os faróis e aumentou o volume
do radio para que mesmo afastado ele ouvisse o seu programa entrar no ar.
Observando
a paisagem, notou as luzes acessas do bairro, algumas pessoas nas ruas,
movimento na porta de um bar, ele pensou que estariam decerto esperando o seu
show começar. Viu além do rio a base militar, tudo aceso sobre a penumbra
noturna.
O
show anunciava – Mirson no ar! Coisas e Causos! Hoje a verdadeira história.
A história dos fatos! Os discos voadores do bairro das Maluquetes! Está no ar!
E
enquanto se iniciava a execução de uma música incidental o rádio silenciara, as
luzes do bairro e da base militar subitamente se apagaram.
Mirson
sentiu um vento forte soprar-lhe sobre ele. Tomado por uma espécie de torpor e euforia viu
diante de si pairando sobre o bairro, imerso na escuridão, três imensos objetos
não identificados. Todos do mesmo formato cônico, como se fossem um chapéu, com
holofotes circulares em suas bases circulares, dispostos na borda das bases que
levavam ao centro um holofote central e maior. As naves pareciam girar e ao
mesmo tempo seguirem lentamente em direção oposta ao rio.
De
braços abertos e estendidos Mirson ficou paralisado ante a aparição.
Num
átimo as naves sumiram no ar.
O
rádio voltou a funcionar e Mirson como que surpreendido se voltou para o carro.
Diante
de si, ao lado do carro, Roger olhando em sua direção segurava um revólver
apontado em sua direção. Roger! exclamou Mirson.
Roger
retrucou com seu sotaque carrego – Disse que era perigoso!
Bum!
O estampido ecoou sobre a planície vinda do alto morro.
O
corpo de Mirson foi encontrado nas primeiras horas do amanhecer. A policia
ainda hoje não tem pistas de quem matou o popular jornalista e locutor da rádio
local. Não há relato de aparições
recentes.