segunda-feira, 14 de junho de 2021

A SUA PORTA

 

                           

 

Lá vem os dois. Qual seus nomes?

Que diferença faz na tarde, na noite e na manhã que eles cruzam o meu caminho?

Relevante é o ser, e eles são um par de pessoas dignas da minha atenção.

            Ele com seus permanentes óculos escuros. Espessa barba com alguns fios grisalhos lhe tomando o rosto, um gorro, por vezes um chapéu, sempre trajando uma jaqueta de linho ou algodão, calças pretas, botas gastas.

    Ela com seu cabelo rastafári chegando aos ombros, coxas grossas expostas como dois pilares reluzentes, jamais abre mão do shortinho que usa, a blusa agarrada ao corpo, expressão séria que sempre traz no rosto, altiva, olho no olho, ágil e forte mesmo com seu ar cansado.

    Os vejo por aí, ao passarem diante do cemitério, sentados num banco de praça perto da Matriz, numa sarjeta nos arredores do Mercado, na praça de um bairro adjacente ao centro.  Parados, conversando um com ou outro ou dividindo entre si, seus achados catados nas ruas, nas portas de casas, nos lixos, no acaso de uma oferta generosa, que as vezes tem.

    Eles são duas incógnitas lembrando-me, lembrando-nos que a conta não fechou, que há uma ponta solta neste campo social onde sementes são plantadas e muito poucas brotam.

            Eu os vejo sempre por aí. Você os vê batendo a sua porta?

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário